A DENTISTA

Mau Hálito

Quem sofre geralmente não percebe!
São muitos os fatores que geram a halitose e, em alguns casos, ela pode ser multifatorial, ou seja, causada por uma somatória de problemas. Diferente da crença popular, o mau hálito não tem relação com o estômago. Na maioria dos casos (90 a 95%), ele tem origem na boca, mas também pode ser causado por doenças metabólicas ou sistêmicas, ou, ainda, ser originado nas vias aéreas superiores.
Segundo a dentista Celi Vieira, especialista em periodontia pela Associação Paulista de Cirurgião Dentista, o mau hálito é sempre indicativo de alguma outra situação, que pode ser:

Fisiológica – a halitose matinal é um exemplo. Ela ocorre graças à estagnação da saliva de repouso no dorso lingual que acontece durante o sono, já que não movimentamos a boca. A saliva de repouso é aquela produzida sem nenhum estímulo e contém grande quantidade de proteína salivar. Esta proteína, por sua vez, facilita a ação das mais de seis bilhões de bactérias presentes na nossa boca, favorecendo a formação dos compostos de enxofre. “Os componentes do enxofre são considerados os vilões do mau hálito, pois são os maiores causadores de alteração no hálito e têm a capacidade mais agressiva de incomodar”, afirma a especialista.

Transitória – pode ser causada pela fome, ingestão de algum alimento de odor forte, dieta desequilibrada, cirurgia na região da boca, etc. Quando estamos há muito tempo sem comer, nosso organismo passa a queimar as reservas de gordura, o que provoca um cheiro desagradável. Ele, na verdade, é expelido pelo pulmão, e não pelo estômago, e não possui cheiro de enxofre como no caso visto acima. Segundo a periodontista, a melhor forma de tratar a halitose transitória é evitando que ela aconteça. “Se está com fome, o remédio é comer. Se a dieta está desequilibrada, tem de ser ajustada”, recomenda.

Patológica – neste caso, a halitose é um sinal de que há algo de errado no nosso corpo. Na maioria dos casos, está associada a alterações na produção salivar, que causam excesso ou falta de saliva na boca. É também frequentemente causada por inflamações na região bucal, como periodontites, gengivites, amidalite, rinites, sinusite, etc. Além disso, doenças sistêmicas, como o diabetes e a síndrome de Sjögren (doença autoimune que reduz a secreção das glândulas salivares e lacrimais), também podem causar o mau hálito.

O diabetes faz com que o paciente urine mais do que o normal, causando desidratação e, portanto, boca seca, o que origina o mau hálito. Mas a doença também pode causar a falsa halitose, ou halitose subclínica. Esta é uma condição em que a pessoa sente um gosto muito alterado na boca e o associa ao mau hálito, que, na verdade, não existe. “Esses pacientes chegam hoje em grande quantidade nos consultórios e mutilam suas vidas no quesito social, sentimental e profissional, porque acham que o mau hálito é constante e extremamente forte, mas ele realmente não é detectado”, explica Celi. O distúrbio, portanto, apresenta as mesmas consequências que a halitose real. Ele geralmente é provocado pela assialia, que é a ausência total de saliva (muito comum no diabetes), ou mesmo por medicações que causam um gosto ruim na boca. Neste caso, o paciente deve procurar um especialista apto a tratar o problema – em geral, o dentista.


Como identificar e tratar a halitose?

A melhor forma de identificar é através do olfato humano. O problema é que a pessoa que sofre de halitose geralmente não sente o mau cheiro. Isso acontece porque, após cerca de um segundo expostas a determinado odor, as células olfativas se adaptam a ele, o que é conhecido como fadiga olfatória. Por isso, os especialistas aconselham que a pessoa que desconfia que tem mau hálito pergunte a alguém de confiança. A Associação Brasileira de Halitose disponibiliza em seu site um serviço de envio de mensagem anônima para quem deseja alertar um conhecido sobre o problema, mas não gostaria de dizer pessoalmente.

Uma vez identificada a halitose, ou mesmo se há apenas suspeitas, a orientação é procurar um profissional especializado em periodontia que consiga identificar a causa do problema. Tenha cuidado com os tratamentos que envolvam apenas a limpeza ou raspagem da língua, pois isso não irá solucionar o problema. “O maior nicho de formação de compostos de enxofre é o dorso lingual, mas ele só promove essa produção se houver outras alterações no organismo. Muitos profissionais resumem o tratamento à limpeza de língua, o que é um grande risco. Ao decorrer dos anos, o uso indiscriminado dos raspadores e mesmo da escovação da língua agride as papilas linguais e acabam formando nichos que agregam bactérias, ou seja, fazem o trabalho justamente oposto”, alerta a especialista. “Limpar a língua é importante apenas quando a qualidade bucal ainda não foi equilibrada. Depois que o tratamento acaba, a própria lavagem fisiológica da saliva já é suficiente”, completa.

Um bom tratamento começa com um bom diagnóstico, que identifique o tipo de halitose e as alterações que estão gerando o mau hálito. Não adianta querer estimular a produção salivar se o profissional não entende por que o paciente está tendo déficit. É um tratamento completamente relacionado a descobrir as causas que levam ao problema.


Dicas para amenizar o mau hálito

Alguns hábitos podem ajudar a controlar o possível odor desagradável. Beber muita água, ter uma alimentação fibrosa e que exija bastante mastigação (que é o estímulo mecânico para a produção de saliva), manter hábitos adequados de higiene bucal e ter cuidado com os horários e escolha da alimentação são alguns deles.


Dica: carregue sempre na bolsa um kit de higiene com escova, fio e creme dental, uma garrafinha de água e saquinhos com frutas secas, que são bons para evitar longos períodos de jejum e exercitar as glândulas salivares através da mastigação.

Fonte: Bolsa de Mulher